A perdiz

 

Texto - In: Carta de Caçador, Manual para Exame

 

 

Excelente andarilha, a perdiz è uma ave de tamanho médio (rondando os 35 a 40 cm de comprimento), com os flancos caracteristicamente estriados de castanho e branco, uma linha preta contornando o branco das faces e descendo até ao peito, onde forma um colar negro. Deste partem estrias da mesma cor que salpicam o cinzento do peito. As costas e a parte superior da cabeça são num quente tom de castanho, o bico e as patas vermelhos.

Apesar de não ser fácil a distinção entre o macho e a fêmea, as perdizes possuem no entanto algumas características que, em observação simultânea, permitem a distinção dos sexos com relativa segurança:

- Normalmente o macho é maior e mais pesado que a fêmea (peso médio dos machos: 483 g; peso médio das fêmeas: 395 g);

- Regra geral, a cabeça dos machos é mais volumosa do que a das fêmeas;

- Os machos apresentam tarsos mais compridos e grossos, esporões com base larga e extremidade arredondada, enquanto que as fêmeas têm tarsos mais curtos e delgados e, quando apresentam esporões, estes têm a base estreita e são bicudos.

A distinção entre animais adultos e juvenis (menos de 1 ano) pode fazer-se pela observação das rémiges primárias – as dez penas da extremidade da asa:

- O juvenil inicia a muda no primeiro mês de vida, a qual se prolonga até Outubro e Novembro – mas não há substituição das duas últimas rémiges. Estas duas penas são pontiagudas e podem apresentar uma pequena pinta branca na extremidade;

- O adulto inicia a muda de todas as rémiges primárias duas ou três semanas antes do juvenil; as duas últimas penas, quer no caso de ainda não terem sido mudadas quer no caso de já serem novas, têm a extremidade arredondada.

 

Habitat e Alimentação

É uma ave que prefere especialmente as zonas de culturas cerealíferas, mas também se pode encontrar na periferia das áreas incultas ou matos, por vezes também em vinhas.

A alimentação, essencialmente insectívora no primeiro mês de vida, evolui radicalmente por forma a englobar produtos de origem quase só vegetal: grãos (trigo, cevada, aveia), bolota e também folhas, rebentos, bagas, flores, e raízes de uma grande variedade de plantas espontâneas. 

Comportamento e Reprodução

O acasalamento destas aves começa geralmente em Janeiro e Fevereiro no sul do país, Fevereiro e Março no norte, podendo haver alterações conforme as condições atmosféricas; fazem o ninho geralmente no chão, com o fundo simplesmente coberto de plantas secas, junto a tufos de ervas, debaixo de ramos secos ou mesmo junto a linhas de água ou caminhos.

A postura dos ovos faz-se durante os meses de Março a Abril no sul e de Abril a Maio no norte; o número de ovos de cada ninho é variável, desde os 8 aos 23, com um valor médio de 12 ovos; a incubação, que começa depois da postura do último ovo, dura cerca de 23 dias. É conhecida a construção de um segundo ninho – provavelmente quando acontece a destruição do primeiro – o qual pode por vezes ser incubado pelo macho.

As eclosões começam no fim de Maio e Junho, havendo um máximo na primeira quinzena de Junho no sul e nos finais do mês no norte; os perdigotos logo que nascem abandonam o ninho (espécie nidífuga), mostrando uma notável vivacidade ao seguirem os adultos na procura de alimentos.

Durante o Verão e até à nova época de acasalamento as perdizes deslocam-se em bandos.

 

Ordenamento da Espécie

Numa população bem gerida, por cada ninho de perdiz, chegam em média à idade adulta 5 perdigotos; para se atingir este número há que seguir certas regras, tais como:

- Pôr à disposição da perdiz alimento, água e abrigo.

- Cuidar da maneira como são feitas as ceifas.

- Evitar o abuso de pesticidas.

- Vigiar cuidadosamente os rebanhos e as varas, tendo em especial atenção aos cães de pastor.

- Evitar o excesso de predadores e que não significa a sua eliminação mas sim o seu controle.

- Evitar a deambulação de cães e gatos vadios que constituem as maiores populações de predadores em Portugal.

Para o nível da população ser mantido, não pode abater-se anualmente mais do que 50% dos efectivos.

A perdiz-vermelha ou perdiz-comum pode confundir-se com a perdiz-cinzenta ou charrela (Perdix perdix). Esta espécie, que pode ser encontrada no norte do país, é muito rara em Portugal, sendo por isso mesmo protegida; importa ao caçador conhecê-la para não a abater.  

Um pouco mais pequena do que a perdiz-vermelha, a charrela distingue-se desta pelas suas faces cor de ferrugem, o pescoço cinzento e as patas amareladas; o macho apresenta no peito uma mancha castanha em forma de ferradura.